Raul Marcelo pede varredura completa nos contratos da Prefeitura de Sorocaba sob suspeita de corrupção após afastamento de Rodrigo Manga do cargo de prefeito

Raul Marcelo, que teve papel central no processo que culminou no afastamento de Manga, afirma que a apuração é “urgente e indispensável”, diante do volume de escândalos envolvendo principalmente as Secretarias da Saúde e da Educação

10 Nov 2025, 14:59 Tempo de leitura: 4 minutos, 21 segundos
Raul Marcelo pede varredura completa nos contratos da Prefeitura de Sorocaba sob suspeita de corrupção após afastamento de Rodrigo Manga do cargo de prefeito

O vereador Raul Marcelo (PSOL) protocolou nesta segunda-feira (10) um requerimento cobrando a criação de um grupo de investigação, com participação dos órgãos de controle, para revisar todos os contratos da Prefeitura de Sorocaba firmados durante a gestão do ex-prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). Manga foi afastado do cargo no dia 6 de novembro por decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, após sucessivas suspeitas de corrupção.

Raul Marcelo, que teve papel central no processo que culminou no afastamento de Manga, afirma que a apuração é “urgente e indispensável”, diante do volume de escândalos envolvendo principalmente as Secretarias da Saúde e da Educação. No requerimento, o vereador lista uma série de contratos, decisões judiciais e investigações que evidenciam o que ele classifica como “um esquema de corrupção sistêmico e institucionalizado”.

Na área da Saúde, a Polícia Federal, a partir de denúncia de Raul Marcelo, investiga, dentro da Operação Copia e Cola, um desvio de 40% em contratos fraudulentos que somam R$ 123,7 milhões entre a administração municipal e uma organização criminosa que administrava a UPA do Éden e a UPH da Zona Oeste. Além disso, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) considerou irregular, também após provocação do vereador do PSOL que acionou os órgãos de controle, a contratação de leitos de Covid pelo valor de R$ 25 milhões — um sobrepreço de 145% em relação ao parâmetro do Ministério da Saúde. Há ainda pagamentos sem contrato que totalizam R$ 13,4 milhões a uma empresa terceirizada responsável pelas farmácias dos postos de saúde, além da aquisição de medicamentos com superfaturamento de até 950% em uma licitação de R$ 33,7 milhões. Todos esses fatos foram denunciados por Raul Marcelo e estão sob apuração do TCE-SP e do Ministério Público Estadual.

Na Educação, a situação revela um conjunto de abusos que se acumulam como uma lista de escândalos. O caso mais emblemático é a compra de kits de robótica por R$ 26,2 milhões, sob suspeita de superfaturamento — investigação que já resultou no bloqueio das contas pessoais de Rodrigo Manga, que hoje é réu no processo. Outro episódio é a compra do prédio para a Secretaria da Educação por um valor R$ 10,3 milhões acima do preço de mercado. Nesse caso, dois funcionários politicamente ligados ao então prefeito Manga já foram condenados em primeira instância: um recebeu 23 anos e quatro meses de prisão, e o outro, 10 anos. A sequência de irregularidades parece inesgotável: Manga tentou comprar, por R$ 22 milhões, kits de musicalização com CDs e DVDs — mesmo sabendo que as escolas não possuem equipamentos para reproduzir essas mídias. A compra só não avançou porque foi barrada pelo Ministério Público; Manga também é réu nessa ação. O ex-prefeito também é réu em processo que apura superfaturamento de R$ 11 milhões no contrato de lousas digitais, em um contrato de R$ 46 milhões. Em Sorocaba, cada lousa custou R$ 26 mil, enquanto Indaiatuba pagou R$ 16,7 mil pelo mesmo equipamento — uma diferença de 56% a mais. Soma-se a isso uma ação por formação de cartel na merenda escolar, com superfaturamento de R$ 5,3 milhões, denúncia apresentada por Raul Marcelo após análise do contrato de R$ 13,8 milhões. Há ainda a compra de móveis escolares por R$ 54,5 milhões, alvo de investigação do TCE-SP após representação formalizada por Raul Marcelo. E outro processo envolve um contrato de R$ 2,2 milhões entre a Prefeitura e uma faculdade de direito, no qual Manga também se tornou réu.

Com isso, Rodrigo Manga responde hoje como réu em cinco processos judiciais, todos ligados a esquemas de superfaturamento, ilegalidades contratuais ou suspeitas de fraude. Para Raul Marcelo, esse panorama reforça a necessidade urgente de uma varredura completa. “A máquina de corrupção instalada nos últimos anos não estava restrita a um setor. É preciso responsabilizar quem assinou, quem negociou e quem permitiu que cada contrato escandaloso avançasse, bem como recuperar os recursos que foram desviados para enriquecimento pessoal do grupo criminoso”, afirma o vereador, autor da denúncia que levou ao afastamento de Manga.

No requerimento, Raul solicita que a nova gestão, comandada pelo prefeito em exercício Fernando Costa Neto, encaminhe ao seu gabinete todas as informações referentes aos contratos analisados, bem como as medidas que serão adotadas. O vereador também pede investigação específica sobre a conduta dos servidores lotados nos setores de Compras e de Licitações, considerados centrais no esquema de fraudes.

Raul, que há anos denuncia irregularidades na administração municipal, diz que continuará apresentando documentos, provas e representações aos tribunais competentes. “Sorocaba pagou caro por essa gestão corrupta. Agora é hora de limpar tudo: transparência total e responsabilização penal para quem desviou dinheiro público”, conclui.